segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Algum dia de junho

Larguei os sapatos em cima da mesinha da varanda, meus pés ardendo o suficiente pra não querer dar mais um passo. Sentei nas escadas que levam à porta de casa e observei o vazio doloroso que há nos começos das manhãs.
Meus dedos se cruzaram atrás da cabeça enquanto eu via o sol sobrepujar as nuvens. Então, uma após a outra, senti as pequenas gotas salgadas pularem de meus olhos e quase as pude ouvir caindo nos tijolos de barro dos degraus. Hoje é nosso terceiro aniversário e eu comemoro a solidão que você me deu com presente.
Engraçado como ainda me pego falando em nós, em nosso aniversário, nosso cachorro, nossa casa. Não existe mais nossa cama, nosso jantar... nós não existimos mais. Não existe mais essa ''bobagem de gente grande''. Acabou há tanto tempo e ainda assim, eu culpo você até por tropeçar na mesinha. 
Não sei mais seu número, seu olhar ou seu telefone. Você só deixou aquela mensagem na secretária que, por pena e tortura consentida, eu ouço todo dia. Ali é um dos lugares onde ainda encontro você. Seu travesseiro continua com o leve cheiro almiscarado do perfume que eu tanto odiava. Sua foto ainda ocupa o mesmo lugar na porta da geladeira.
Por Que diabos eu não te esqueço? Não sei. Mas me lembro todos os dias que você ainda é a metade da minha história e eu nem se quer ouço o som de você cantando no chuveiro. Não sei se errei, se fui pouco, se fui muito ou se fui alguma coisa. Mas entendi que amor não acaba porque não é amor. Amor acaba porque, em algum momento, a balança pesa mais pro lado da dor do que pro nosso lado.
Ando tão cheia dos clichês e das fraquezas que eu sempre condenei nas mulheres apaixonadas. Chorei ouvindo Gavin DeGraw, li Caio Fernando Abreu e aprendi umas vinte letras depressivas de cantores variados. Já fiz todas as besteiras recomendadas na cartilha das recém-abadonadas e nenhuma teve a decência de diminuir essa dor. Tenho passado pela vida nos últimos meses. Não vou ao cinema porque posso ver, nos olhos das pessoas, que eu estou tão mal que deveria ter vergonha de andar em público. Já não leio romances porque todo vilão destas histórias tem o seu sorriso de lado e a barba mal-feita que eu tanto amo.
E depois de tudo isso, ainda consigo mentir dizendo que não penso em você quando algum amigo me pergunta ''como estou indo''. Espero que minhas mentiras me convençam e que você não seja tão magnífico daqui a algum tempo. Peço licença ao amor-próprio e caminho na tradicional espiral depressiva que vou encontrar dentro de casa com todas as lembranças entranhadas nas paredes.
Ainda te amo, mas isso é problema só meu.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Seremos.



''Não procuro alguém que me complete. Procuro alguém que me some, me dobre, me melhore e faça de mim algo tão maior que se perde de vista.''

R.M.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Porque sou canalha.



Amor, te traio. É. Te traio com certa frenquência, com amigas minhas, suas, com sites e com as minhas mãos. Te traio sempre que é conveniente. Já te traí com o cheiro da mulher que trabalha ao meu lado. Uma vez te traí, na nossa cama, com você mesma. Sabe, estou cansado de mentir pra você. Todo dia acordo e te traio um pouco mais, ou até menos, mas raras datas sou fiel.
Não. Não se ache menor. Minha infidelidade vem do meu mau caráter, da minha cretinice congênita e das coisas que eu aprendi pela vida. Fui ensinado que homem que é homem traça mais do que o pênis aguenta. Homem mesmo é aquele que tem uma mulher em casa e outras 5 na rua esperando um telefonema misericordioso com um convite pra um motel de meia estrela. Sou homem de deixar você esperando em casa naquela camisola nova enquanto uso uma vagabunda de terceira.
É, amor, sou canalha de berço, alma e cara de pau. Não tenho limites e estou lhe dizendo a verdade. A única fidelidade que mantenho é de amor. Meu amor é seu e somente seu. Isso nenhuma outra vai tirar, prometo. Porque amor é amor e sexo é sexo. Te sou fiel na alma, no amor, no espírito. Já no corpo, sou calhorda. Mas no fim, estou sendo sincero.
Não te traio por não fazer bom amor, boa comida ou carinho gostoso. Entenda! É algo maior que eu e que não sei controlar. Virei um cafajeste, certo dia, e não sei como voltar atrás. Mas isso não quer dizer que quero redenção. Afinal, quem não quer sexo em casa e mais sexo na esquina com todo o risco da sífilis no ar? Amor, pare de me jogar pratos! Estou lhe contando a verdade, que é o que você vem me pedindo desde que eu comecei a ser ''distante''.

Baseado em fatos reais.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um brinde.

Engraçado como as coisas tem obrigação de terem um dia. Dia da mãe, do pai, do orgulho nerd, da criança, do amigo... É. Pense bem, engraçado como a gente tem que ter um dia pra homenagear ou lembrar de pessoas ou coisas que deveriam ser engrandecidos todos os dias. Daí que em algum ano, um alguém qualquer disse que todo dia 20 de julho deveria ser dia do amigo.
Não tenho nada contra datas, mas porque amigos tem que ter um dia? Por Que hoje eu devo dizer 'feliz dia do amigo'? Ah! Façam-me um favor? Dia do amigo é todo dia, todo minuto, todo sofrimento, toda festa, toda piada. Amigos, seu dia é hoje, amanhã e depois e no dia depois desse ou daquele.
Amo a todos como são. Mesmo que estejam no Pará, em Santa Catarina, no Rio, na esquina ou só no futuro, vocês são os melhores presentes que eu tenho/terei nessa vida. São pessoas que eu não esqueci e não vou deixar de pensar nos momentos mais importantes da minha vida.
Agradeço por tudo o que me fizeram, pelas broncas, pelos abraços, pelos tapas, pelas mordidas, pelas lágrimas divididas, pelos amores compartilhados. Ai! Agradeço por serem os pedacinhos do meu coração que se perderam e que perambulam pelo mundo. Sou feita de vocês, por vocês e pra vocês, queridos. Um brinde a todos os amigos. Os que foram, que são e que serão.



Sejam de um ano, um mês, uma vida, vocês são importantes!
Beijos
Ray

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Quando foi?

Lembro do dia em que aprendi a amarrar meu tênis. Parece que foi ontem que eu caí e abri o queixo pela primeira e única vez, aos 7 anos. Outro dia mesmo minhas únicas preocupações eram ligar pontos e se o lápis rosa estava no estojo. Sinceramente? O que mais me faz sentir falta daquele tem é a falta das responsabilidade, das frustrações. Sinto vontade de entregar tudo pra minha mãe e dizer ''Me salve, pelo amor de Deus.''Quando foi que tudo ficou tão difícil? Quando as pessoas pararam de me achar um criança fofinha e passaram a me tratar com verdades grosseiras e apatia? 
Semana passada me lembrei do dia em que descobri que eu era o alvo das fofocas da turma. Dizem que eu dei um chute tão forte na porta de alumínio que a empenei. Chamaram psicólogo na escola, terapia em grupo, meu drama e a lição pro resto da vida. É uma das poucas coisas que eu guardo na minha caixinha da mágoa. É. Me magoou bastante mas, de uma forma única, me fez mais dura. Quando foi que as crianças aprenderam a segregar e serem cruéis? Meu Deus.
Quando foi que as pessoas começaram a ignorar uma criança faminta na rua? Quando foi que as pessoas passaram a achar divertido esfolar gatos, treinar cães pra rinha ou até mesmo dá um chute num cão ''sarnento''? Onde foram parar o amor e a compaixão? Onde estão as pessoas que deveriam se levantar contra essas mediocridades?
Vi pessoas serem taxadas por sua aparência. Sei de mães que escondem seus filhos ''anormais''. Senti pais ignorarem a existência de filhos. Conhecia gente que foi assassinada por causa da fé. Ouvi pessoas chorarem por vergonha dos próprios gostos. Quando o mundo ficou tão hipócrita?
Desde quando é errado nascer com uma doença? Desde quando é feio estar fora do peso? Desde quando ter é mais que ser?

Quando foi que todo mundo resolveu ser tão escroto?





''Someone hear me please, all I see is hate
I can hardly breathe, and I can hardly take it''