quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um brinde.

Engraçado como as coisas tem obrigação de terem um dia. Dia da mãe, do pai, do orgulho nerd, da criança, do amigo... É. Pense bem, engraçado como a gente tem que ter um dia pra homenagear ou lembrar de pessoas ou coisas que deveriam ser engrandecidos todos os dias. Daí que em algum ano, um alguém qualquer disse que todo dia 20 de julho deveria ser dia do amigo.
Não tenho nada contra datas, mas porque amigos tem que ter um dia? Por Que hoje eu devo dizer 'feliz dia do amigo'? Ah! Façam-me um favor? Dia do amigo é todo dia, todo minuto, todo sofrimento, toda festa, toda piada. Amigos, seu dia é hoje, amanhã e depois e no dia depois desse ou daquele.
Amo a todos como são. Mesmo que estejam no Pará, em Santa Catarina, no Rio, na esquina ou só no futuro, vocês são os melhores presentes que eu tenho/terei nessa vida. São pessoas que eu não esqueci e não vou deixar de pensar nos momentos mais importantes da minha vida.
Agradeço por tudo o que me fizeram, pelas broncas, pelos abraços, pelos tapas, pelas mordidas, pelas lágrimas divididas, pelos amores compartilhados. Ai! Agradeço por serem os pedacinhos do meu coração que se perderam e que perambulam pelo mundo. Sou feita de vocês, por vocês e pra vocês, queridos. Um brinde a todos os amigos. Os que foram, que são e que serão.



Sejam de um ano, um mês, uma vida, vocês são importantes!
Beijos
Ray

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Quando foi?

Lembro do dia em que aprendi a amarrar meu tênis. Parece que foi ontem que eu caí e abri o queixo pela primeira e única vez, aos 7 anos. Outro dia mesmo minhas únicas preocupações eram ligar pontos e se o lápis rosa estava no estojo. Sinceramente? O que mais me faz sentir falta daquele tem é a falta das responsabilidade, das frustrações. Sinto vontade de entregar tudo pra minha mãe e dizer ''Me salve, pelo amor de Deus.''Quando foi que tudo ficou tão difícil? Quando as pessoas pararam de me achar um criança fofinha e passaram a me tratar com verdades grosseiras e apatia? 
Semana passada me lembrei do dia em que descobri que eu era o alvo das fofocas da turma. Dizem que eu dei um chute tão forte na porta de alumínio que a empenei. Chamaram psicólogo na escola, terapia em grupo, meu drama e a lição pro resto da vida. É uma das poucas coisas que eu guardo na minha caixinha da mágoa. É. Me magoou bastante mas, de uma forma única, me fez mais dura. Quando foi que as crianças aprenderam a segregar e serem cruéis? Meu Deus.
Quando foi que as pessoas começaram a ignorar uma criança faminta na rua? Quando foi que as pessoas passaram a achar divertido esfolar gatos, treinar cães pra rinha ou até mesmo dá um chute num cão ''sarnento''? Onde foram parar o amor e a compaixão? Onde estão as pessoas que deveriam se levantar contra essas mediocridades?
Vi pessoas serem taxadas por sua aparência. Sei de mães que escondem seus filhos ''anormais''. Senti pais ignorarem a existência de filhos. Conhecia gente que foi assassinada por causa da fé. Ouvi pessoas chorarem por vergonha dos próprios gostos. Quando o mundo ficou tão hipócrita?
Desde quando é errado nascer com uma doença? Desde quando é feio estar fora do peso? Desde quando ter é mais que ser?

Quando foi que todo mundo resolveu ser tão escroto?





''Someone hear me please, all I see is hate
I can hardly breathe, and I can hardly take it''


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Queria saber-te.

Acordei. Coloquei os pés no chão frio e senti aquele choque pequeno e até gostoso. Domingo de manhã tem gosto de monotonia, de café morno e saudade das coisas que eu não vou ver até o outro domingo. Liguei o rádio e Nando encheu a sala com o acompanhamento do violão num ritmo que parecia mais lento graças ao meu sono. Olhei pela janela as gotas do orvalho escorrendo pelas folhas, era tão cedo, tão só. Por Que eu estava de pé mesmo? Ah. Acho que era fome.
Fui pra cozinha enquanto a música fazia companhia: ''Sorrir, vem colorir solar. Vem esquentar e permitir''. Ótimo. Agora eu penso em você. Esse você que eu nem sei onde pode estar. Esse par de pernas que parece se afastar enquanto eu escuto essas músicas tão minhas.
Sinto-me exatamente assim, guardei pra você esse amor todo que não cabe no peito mas que tem se escondido dentro do meu olhar perdido e dengoso. Vem logo, amor. Seja quem for, no momento que for. Vem. Deixa eu tocar teu rosto, ouvir teu riso e aquecer a alma quando sentarmos juntos à beira da calçada só pra ver o vento soprar as folhas secas do nosso primeiro outono.
Por onde andas? E seus olhos, são aquele negro que me enebria a espinha ou o azulzinho que me faz voar? Suas mãos se encaixarão nas minhas? Querido, daria um pedacinho de mim só pra saber quem és. Essa espera tem me matado e renascido, me tirado o sono, tem contorcido meus pensamentos mais soltos e trazido eles pra você. Nem sei quem és, mas estou aqui, sentada na nossa janela vendo um dia a menos que teremos juntos. Fiz nosso café, vou ver nosso filme favorito debaixo do cobertor enquanto aqueço teu espaço com ansiedade.
Torradas com geleia nunca tiveram um gosto tão indiferente. Penso na falta de você e tudo parece tão desnecessário, mas aí penso no jeito que você vai fazer meu peito tremer de felicidade e tudo ganha sabor. Quero-te aqui e agora, meu bem. Espero-te, ansiosa e toda amores.


Sua desde agora.
Rayana

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pássaro, sou eu.

24 de dezembro de 2011.

Éramos eu e Zé, meu primo favorito, sentados na mureta. Olhávamos a casa da frente só porque era bonita. Branquinha de janelas azuis com cortinas de renda que protestavam toda vez que o vento resolvia chicoteá-las. Zé sonhava em ter uma casa daquelas um dia, uma dessas casas dos sonhos, de dois andares, um carro com motorista e um cachorro que combinasse com aquela riqueza toda.
Nós não éramos pobres, mas estávamos longe de ricos, se bem me lembro. Aquele era o primeiro natal em que a gente teria uma ceia com peru, pernil e frutas cristalizadas. Eu nunca tinha comido, mas já achava elas meio nojentas. E tudo isso só ia acontecer graças à solidão do patrão da minha mãe. Era um viúvo na casa dos 70 que não tinha tido filhos. Ele só queria um natal em família, depois de alguns anos de luto. Mamãe arrastou todo mundo pra casa do velho, fez ceia, comprou presente e colocou Muddy Waters no rádio. Seu João gostava de Muddy Waters. Ele dizia que aquecia o coração ouvir aquelas músicas da juventude dele. Eu só sentia prazer quando sentava tão perto do rádio que podia sentir a vibração no coraçãozinho miúdo que eu tinha aos 8 anos.

- Prima, olha ali no segundo andar. - Levei os olhos pra cima e esperei a explicação.- Tá vendo a menina ali na segunda janela?
- Tô. Mas e daí?
- O que aconteceu com ela?
- Mamãe disse que ela tá com um negócio chamado dor de cotovelo.
- Dor de cotovelo? O que é isso?
- Sei lá. Só sei que é o que ela tem. Mas eu acho que ela tá é com saudade de um garoto que sempre vinha aqui de bicicleta.
- O que dor de cotovelo e um garoto tem em comum?
- Ele deve ter dado um daqueles beliscos que minha mãe dá em mim quando eu desobedeço.

Zé riu. Riu tão alto que a menina olhou pra gente e deu um meio sorriso. Hoje, vinte anos depois, eu sei que tipo de sorriso é aquele. Um sorriso esperançoso, um sorriso pra inocência que criança transmite. Ela apoiou os cotovelos na janela e o rosto nas mãos. Deu pra ver o nariz vermelho e o cabelo amarrotado de quem não pega num pente há algum tempo.

- Se ela tá com dor de cotovelos, por que tá piorando tudo?
- Ela deve ser meio maluca.- Cochichei.
- Tá com cara de espera.
- Esperando a dor passar?
- Deixa de ser burra, garota. Deve ser outra coisa.- Zé tinha uns 11 anos, era mais esperto.
- É coração partido.- Chegou Tio Bento e se encostou na mureta bem entre mim e Zé.
- Eita. Mas esse negócio de dor no cotovelo é sério.- Fiquei impressionada facilmente.

Daí o Tio explicou que coração partido é quando um amor não dá certo. Falou que amor é assim mesmo, que às vezes a gente entrega o coração pra alguém e esse alguém deixa cair, aperta demais ou simplesmente não segura do jeito certo. O coração é feito um passarinho, se apertar muito machuca o bichinho e pode até matar. Mas se a gente abrir demais as mãos, o passarinho quer voar pra muito longe e se perde da gente.
Zé achou besteira essa coisa de passarinho. Disse que amor é o que ele sentia pelo Botafogo.
Fiquei com Tio Bento enquanto ele me contava do rapaz que tinha voltado pra casa, mas não pra ela. Na verdade ele tinha voltado com uma outra garota pra casa dele, tinha casado e tudo isso sem nem dar uma explicação pra ela. Deu dó. Lembrei de quando minha irmã pegou mina boneca, esqueceu na escola e nem pediu desculpas. Deu uma dorzinha no coração quando mamãe veio explicar o que acontecera.

Os anos passaram, a chorosa da frente se mudou, seu João morreu e a casa dele virou herança pra mamãe. Cresci ali, me formei ali e te conheci na esquina graças a um encontrão criado pelo destino. Agora te escrevo essa carta com recomendações e um pequeno anexo. Escrevo pra lhe pedir que aceite meu coração, mas que não o aperte. Não me faça mal, não me deixe sozinha por muito tempo e que não tome um rumo muito distante daquele que penso pra nós. Cuide bem do meu canário vermelho que faço gosto em lhe dar e o deixe confortável. Não o deixe muito livre, ele é curioso e pouco experiente nessa coisa de amor. Não o solte porque eu gosto do laço que vem do teu olhar, do telefonema e da risada que me vem aos lábios quando você desponta na esquina antes da festa à fantasia com aquela roupa de retalhos e os passos trôpegos de mocidade.
Entenda, meu bem. Só estou lhe entregando o que você conquistou quando me deu aquele primeiro beijo na testa e me deixou à porta de casa num diazinho nublado que não guardava promessas. Você não é a metade que me completa, nem de longe a luz que ajeita meu caminhar. Você é meus pés, minha alegria, meu sorriso inocente e o pensamento repetido dezenas de vezes ao longo dos dias.
Ande. Tome! Guarde ao lado do teu porque, afinal, ele desaprendeu a bater quando te vi e agora precisa do ensino que vem do teu peito. Me tome, tome minhas escolhas e guie nosso futuro com carinho e pressão exatos. Prometo ser um pássaro obediente e cantar o dia todo, só pra te ver orgulhoso e seguro de amor certo que tenho pra lhe oferecer.
Serei o pássaro da manhã pra lhe acordar com cantigas doces, a andorinha pra te guiar a tarde e a esperta coruja pra vigiar teu sonho. Ai, meu bem! Serei o que quiseres, se me amares e aceitares hoje e sempre.





Com todo meu amor.
Rayana


P.S.: A foto não é minha.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Odeio praia.

- Então, por que você tá terminando comigo?
- Porque.. porque a gente não tá dando certo.
- E se eu mudar?


Doeu. Ouvir esse último recurso do coração ferido machucou meu coração determinado a não me envolver. Parece aquele grito desesperado de socorro quando a gente tá à beira de ser maltratado. E olha que eu nem era uma das partes integrantes dessa laranja mal encaixada. Eu era só um par de olhos perdidos no calçadão da praia e um ouvido virado pro lado da conversa. Ela chorou. Dava pra ouvir a dor nos gemidos baixos, ela parecia estar numa crise de asma. Asma de amor. Asma de solidão. Falta o ar quando a gente é abandonado. Ou pelo menos pareceu faltar. Apoiei o rosto na palma da mão e o cotovelo na coxa, a conversa continuou.


- Não chora. É golpe baixo e você sabe disso.
- Vou embora.


Ela levantou e sumiu à passos desolados ao longo da calçada. O patife ficou ali sentado por alguns instantes enquanto os olhos acompanhavam o distanciamento da menina.


O clima era triste, daquele tipo que a gente sente pós filme de drama ou quando a gente bem que queria se esconder do mundo pra não dar explicações. Aquele momento que todo mundo vive igual quando o coração tá pequeno, tá esvaziando e deixando o amor e as boas lembranças se tornarem só um buraco dolorido e prestes a sugar tudo em volta. Até hoje não sei se eu sinto pena, vazio, compaixão ou indiferença.
Quem tomou o famoso ''pé na bunda'' não fui eu. Cá entre nós um pé na bunda não deve doer tanto quanto essa enxurrada emocional. Depois de só Deus sabe quanto tempo dando certo, aí você dá errado alguns dias e tudo acaba. Deve ser mais fácil fugir do que tentar com tanta força. 
Senti uma pontada no peito. Quando caí em mim, parecia ter bebido o mar inteiro. Uma sede amarga, uma dor nos pulmões, aquele cansaço nos braços. Um desespero ainda maior pra sumir, pra esquecer, fugir. Acordei. Quase afogada na dor das minhas lágrimas, naquela lembrança de alguns dias. Era como se ele estivesse me dizendo agora que não estava certo. Sonho maldito que me faz lembrar dele e aquela boca cheia de desculpas e finais. Sonho que não me deixa esquecer que foi outro dia que eu me perdi nele. 
No dia, lutei tantas vezes contra minha vontade de afogar o vazio e deixar o mar me rumar. O mar, sim, era feliz. As pessoas pulam nele, batem braços e pernas e ainda assim é ele quem tem a direção. E quando a pessoa não quer mais ser controlada, ainda tem que lutar pra ir embora. Mas ainda assim o mar continuava imenso, com aquele azul ondulado e dono de si. Queria tanto ser dona de mim outra vez. Se eu soubesse o quanto dói se afogar em alguém, nem teria pisado na beirinha.
No fim, eu aqui trancada por dentro enquanto odeio praia.




Resolvi tentar algo novo e me inspirei na minha foto pra escrever essa bobagem.
Beijo, queijo e um amor pra vida toda.
Ray (: