domingo, 18 de novembro de 2012

Entendimento

Acho que hoje, finalmente, depois de 21 anos, entendi porque a morte me deixa tão desequilibrada. Perde alguém, por si só, já é como anda na corda bamba segurando um elefante nos ombros, mas quando essa perda vem seguida da culpa, como se sentir? Não. Eu não matei ninguém. Mas voltei a viver um momento que tenho pedido a Deus pra me afastar, a perda de um amigo.
O Erick não morreu de verdade, ele resolveu passar 100 dias sem entrar no facebook e isso virou um grande reboliço entre os amigos dele. Claro, já que ele é o tipo de carinha que se amarra em compartilhar piadas de pokemon e coisas triviais na própria página. E daí, Rayana? Daí é que, sabe lá Deus o motivo, uma meia dúzia de seres humanos inconsequentes armaram uma ''trollada'' pra trazer o Erick de volta ao facebook.
A ''grande ideia'' foi postar no mural do rapaz mensagens de ''luto'', como se ele tivesse partido dessa pra melhor. Não foram necessários mais de 15 minutos pra que tudo isso se tornasse uma enxurrada de desespero e mal-entendidos. Amigos ligando pros parentes, parentes ligando pra ele, telefonemas desesperados e no fim o cara só tava em casa, dormindo.
A verdade é que nesses 15 minutos em que eu não soube se aquilo era real ou mentira, o mundo desabou e eu me senti a pior amiga de todas. Pensei na promessa de ir visitá-lo em sua cidade, de jogar sinuca e videogame. Senti falta das conversas que a gente nunca ia ter, dos abraços que eu não ia dar nele e dos gostos que eu nunca ia saber.
Minha dor foi tão grande pela simples frustração de não ter sido uma amiga melhor pra ele, de não ter colocado ele, um cara que eu admiro e respeito muito, mais perto de mim e do meu cotidiano. Percebi que havia traído o código implícito da amizade, aquele que diz que você deve aproveitar qualquer oportunidade de estar com as pessoas que ama e que deve falar com elas, pelo menos, uma vez na semana.
Minha maior tristeza não foi pela ''morte'' dele, percebi que foi por mim, pelo fato de eu ser uma pessoa que, talvez, ele nem visse como amiga. Cheguei a me encher de culpa pelo simples pensamento que, provavelmente, ele não acharia que eu fosse alguém que choraria a partida dele. Me senti inútil, tive aquela sensação de correr atrás do último trem que eu já sei que perdi e que lá dentro estavam todas as coisas boas que eu poderia ter vivido se tivesse me esforçado mais. Minhas razões pra chorar a ''morte'' do Erick são tão egoístas quanto podem ser, mas são bem razoáveis quando você se vê na minha situação.
Enfim, só queria botar pro mundo esse turbilhão que tá dentro da minha cabeça e dizer que, quando alguém morrer, é provável que suas lágrimas sejam bem egoístas. Mas não acho que você deva se achar desprezível, afinal os bons amigos são egoístas e querem-se eternamente.

Bom ter você ''de volta'', Link. (: