domingo, 19 de fevereiro de 2012

A morte.


''Morrer é um chiste.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.

Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas...

Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas...

A apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.''
Fragmento retirado de 'Morte' de Pedro Bial.


Uma vez me disseram que falar de morte é um pouco chato. A verdade é que ninguém fala de morte porque dói!  É óbvio que não se sente chatice quando se fala dela. Eu sei que não faz muito sentido trazer esse assunto num blog que propõe-se a entreter os leitores, mas nos últimos dias a morte tem sido insistentemente presente. E acima de tudo eu falo de qualquer coisa que eu quiser né. Enfim, mas a morte se fez presente no domingo (19/02), quando completou uma semana que a avó de uma grande amiga se foi e eu podia ver o vazio no olharzinho dela. Nesse mesmo dia meu tio-avô faleceu no meio da tarde de domingo de carnaval. Sem falar na mãe de uma amiga da família quem faleceu na terça (?).

Rayana, que assunto mórbido!

Dêêr! Não dá pra ser nada além de mórbido, né, gente?! Afinal, tô falando de vestir o paletó de madeira, pendurar as chuteiras, esticas as canelas, bater as botas, comer capim pela raiz, etc. OK. Vou parar de gracejos e ir direto ao assunto. Não estou chorando rios de lágrimas, nem jogando toneladas de lenços de papel no lixo, afinal nenhum desses era meu super BFF. Mas a morte, de alguém próximo ou nem tão próximo assim, sempre dá um apertinho do coração. Meu tio-avô era o 'the last man standing' entre os irmãos, agora só resta minha avó meio apressada, assustada e com leves sequelas da idade e de dias ruins.
Perdê-lo me fez pensar em quanto tempo ainda terei minha avó, meus pais ou meus amigos pra bater um papo e pegar uma praia. Posso encontrá-los mais uma, vinte ou duas mil vezes, quem sabe?! A vida tem dessas. Quando menos esperamos, 'puft', o telefone toca e a voz do outro lado dá o aviso - nem sempre com muito cuidado. O que incomoda na morte de alguém é saber que além de ser o fim de uma vida, é o fim da presença. Acabou a vida? Não só. Acabou a pessoa. Acabaram-se as risadas, os abraços apertados, os sorrisos, as piadas, os dias de fúria, tudo. Fulano? Nunca mais. 
Só por isso a morte dói na gente. Sofrer com a morte de alguém é um vazio, mas daquele tipo egoísta afinal, caso fossemos consultados, jamais deixaríamos nossos amores irem embora. Quem dera as pessoas fossem eternas, quem me dera poder abraçar a todos sempre que eu quisesse. Perder alguém é perder um pedaço da sua vida, da sua história, é praticamente se perder aos pouquinhos. Não quero nem pensar quando meus próximos pedaços começarem a partir. 
Meu pedacinho favorito se foi há quase quatro anos. O melhor homem, a mais nobre alma que conheci. Meu lindo vovô Aldo. Ele já não sorri mais pra mim, já não toca violino pra me fazer sorrir e infelizmente, não aperta mais as minhas bochechas como um bom descendente de italiano. E apesar de toda a minha tristeza ser apenas egoísta, eu tive o privilégio de tê-lo. Fim. Minha tristeza é proporcional a todo o bem que ele me fez e às coisas que me ensinou, mas é proporcional porque deixou aquele vácuo. De repente ele escapou pelos dedos e eu nem pude dizer um simples 'adeus'.
Meu 'pedaço avô' se foi, mas tenho as lembranças, as fotografias e os vídeos. E mesmo que nada disso represente nem um milésimo do que aquele homem foi em minha vida, o meu futuro é a marca que ele deixou. Eu serei alguém graças a ele e toda sua linda vida.
Quando nossos pedaços se forem, o vazio egoísta tomar conta e a gente não conseguir mais segurar essas gotinhas salgadas que rolam pelas bochechas, lembremos que ninguém é nosso. Nem nós somos nossos. Eu sei que não dá pra ignorar o fim da presença, mas guardar o melhor do que essa pessoa foi pra nós é a tábua de salvação pra não se afogar nas lágrimas. 

Meu pedacinho mais bonito.
''Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.'' 
Clarice Lispector





Um beijo, um queijo e 2mil blocos.
Ray.

Um comentário:

Bia disse...

Nossa, tô chorando. Eu tenho me visto num debate infinito com a morte, porque 2 das minhas 4 tias-avós se foram, restando só a 2ª mais velha e a minha avó. A que me criou, me alimentou, me educou, me ensinou, me repreendeu, me aconselhou, me irritou, me confundiu, mas me amou. Me ama. Porque ela ainda está ao meu lado, mas é impossível não pensar em como eu vou ficar quando a vez dela chegar. Será que eu conseguirei seguir em frente ou serei apenas uma sombra cheia de lembranças dos nossos momentos? Porque foram muitos. E um dia eu contei isso para o meu amigo que perdeu a dele, e nem era tão próximo dela assim, e ele chorou. Lembrando do que poderia ter sido com a dele e chorando por mim. Porque será uma das maiores perdas da minha vida e, o pior de tudo, inevitável. Por isso eu procuro viver ao máximo, aproveitar ao máximo, para não me arrepender por palavras não ditas e atitudes não tomadas. Porque, como você disse, no final, só restam as lembranças. As melhores... Xx